GAFES E FATOS CÔMICOS

Parte 3

Os discos antigos eram facilmente quebráveis e a Rádio Clube Paranaense tinha uma discotéca enorme cuidada com muito zelo. O Discotecário selecionava as gravações para cada programa separadamente e levava ao Operador de Som com a respectiva relação. Para fazer isso, tinha que atravessar todo o auditório ou subir uma escada, passar por um grande corredor, descer e ir à cabine do Operador. Para não dar muitas viagens, Édwin Scott Balster procurava reunir as gravações para diversos programas e levava aquela pilha de discos pesadíssima. Isso era feito contra a vontade de Jacinto Cunha que já o advertira sobre o perigo de quebrar algum disco. Um dia, mesmo proibido, Édwin voltou a levar aquele peso enorme, confiante de que ninguém o veria. Errou o pulo. Jacinto estava na sala do Eolo Cesar de Oliveira, no início do caminho, flagrando o infrator. E foi aquela bronca! "Eu já disse pra você que deve levar aos poucos. Não quero que carregue essa quantidade enorme pois pode quebrar um disco!" E, ante o assustado e estático Edwin, bradou: "Largue já esses discos!" E o Édwin largou. Da pilha inteira sobraram poucos. Nunca ele tinha sido tão obediente... e destruidor.

 

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Orlando Albérti era um especialista em Código Morse. Ele mantinha uma atividade de grande importância para as emissoras de rádio e jornais de antigamente: recebia em Morse os noticiários das Agências de Notícias internacionais e fornecia aos veículos de comunicação que eram seus clientes. Era o único a fazer esse serviço. Recebia as notícias em Morse, decodificava já datilografando em papel estêncil, tirava as cópias num mimeógrafo a álcool e enviava aos seus clientes. Era muito inteligente e gostava de passar trotes. Muitas vezes, no meio das notícias, ele aprontava as suas, pegando de surpresa os locutores menos avisados. Vou contar um desses marotismos. Veio a notícia que em Londres, num acontecimento de rara frequência e muita repercussão, a Rainha da Inglaterra foi ao Parlamento britânico para fazer um pronunciamento. O Alberti, maliciosamente, encerrou assim a notícia que todas as emissoras colocaram no ar: "Quando a Rainha entrou no Parlamento, todos os membros ficaram em pé."

 

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A Bedois tinha duas emissoras de Ondas Curtas, em 25 e 49 metros. A cobertura era internacional, mas em algumas regiões brasileiras mais próximas a sintonia não era satisfatória. Por isso, ansiávamos por ter uma emissora de Ondas Curtas em 31 metros que já havíamos requerido. Depois de muita luta, conseguimos a concessão. Acontece que a emissora não dispunha do numerário necessário para comprar o transmissor. Como o Dentel determinava um prazo para a instalação e já havíamos solicitado e obtido diversas prorrogações, um dia recebemos o ultimato: "ou instalam ou perdem o direito".

A Bedois já pertencia à Fundação Nossa Senhora do Rocio e, após uma luta enorme e dificuldades sem conta, conseguimos comprar o transmissor e instalar. Um dia, fomos à séde dos transmissores, no bairro do Atuba, para a inauguração festiva. Presentes o Arcebispo de Curitiba e todos os Diretores da Fundação, autoridades civís, militares e eclesiásticas, na qualidade de Diretor Gerente fui dar o discurso inaugural. Após saudar a todos os presentes, falei assim: "Dentro de instantes, ao ser pressionado um botão, a nossa emissora de Ondas Curtas em 31 metros será oficialmente colocada no ar por Sua Excelência Reverendíssima, o Arcebispo Metropolitano de Curitiba, Dom Manuel da Silveira D'Elboux..." e parei de falar ao ver o olhar de espanto das pessoas presentes. Acontece que Dom Manuel já havia morrido fazia tempo, e o Arcebispo que alí estava era Dom Pedro Fedalto que tanto havia prestigiado a Rádio Clube e com o qual eu me encontrava quase todos os dias.

Transmissores Atuba


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